Segundo todos o indicadores, o turismo cultural – e em particular o que se estrutura no património – é responsável por uma quota de leão no total das receitas do sector. Deixando aqui de lado uma discussão potencialmente bizarra sobre a natureza e os limites daquele conceito, vale no entanto a pena questionar se estamos perante uma efectiva dimensão multiplicadora. Produzir em turismo usando componentes patrimoniais não se resume a um itinerário de postais ilustrados, e carece cada vez mais de uma densificação cujo ingrediente principal consiste no input do próprio turista. No cenário português, será razoável admitir que a maioria dos stakeholders está hoje sensibilizada para um enfoque na experiência global do turista e, se não na sua fidelização, pelo menos na relevância do seu feedback.
Com a devida vénia a alguns pólos de atracção excepcionais, são reduzidos em número, e inconstantes no tempo, os sucessos de produtos monotemáticos. Regresso aqui à questão de rentabilidade, e portanto à equação entre esforço investido e retorno emocional. A este respeito, os chamados millenials tornar-se-ão consumidores dominantes no espaço de uma década. E o comportamento desta Geração Y determinará em larga medida o vigor de iniciativas turísticas que se baseiem de forma assumida em património. Dificilmente sobreviverão fórmulas convencionais, dando lugar a soluções interactivas, não apenas sob formato tecnológico, mas também enquanto fonte de turismo criativo. O envolvimento em actividades percepcionadas como tradicionais não se esgota em lugares-comuns pouco rentáveis, originando já hoje uma procura criteriosa. Será com probabilidade nesta convergência entre património cultural, participação individualizada e qualificação da oferta que, no curto e médio prazo, haverá espaço de manobra. Interpretar o perfil assertivo dos millenials passou a ser decisivo para o êxito de produtores e intermediários. O word-of-mouth constrói e desagrega em moldes eventualmente virais, e estes novos consumidores opinam copiosamente nas redes sociais. Daí que o chapéu-de-chuva de recursos endógenos a que chamamos património seja difícil ou impossível de configurar apenas do lado da oferta.
A manipulação do produto é, porém, fundamental, sendo precisamente neste campo que surge um desafio de vulto. De facto, a qualidade e a autenticidade muitas vezes não convergem, na medida em que a segunda resulta invendável. A fórmula da genuinidade patrimonial simplesmente não funciona da mesma maneira nos diversos campos, da gastronomia ao alojamento. Em si, a comodificação do património não representa um problema do ponto de vista turístico – o que importa é a utilização selectiva de recursos, permitindo ao prosumer construir um vínculo contextual. Aquela dimensão multiplicadora do património, que até o passado recente foi sendo ancorada na mera presença de recursos, terá de reorientar-se, a breve trecho, perante as aspirações de novos consumidores. Individualismo, preocupação social e literacia electrónica são características associadas à Geração Y, apesar da falta de acordo cabal sobre o assunto. Penso que, no fim de contas, o que venderá será sempre a qualidade irreplicável do património português, apontada todavia a faixas mais complexas de segmentar.
Adriaan De Man | Docente da Universidade Europeia