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28-11-2014 11:30

Do Ensino da História, dos Valores e das Tradições Nacionais


DavidRosado
“Orientados por este critério, assim, procurámos ser sóbrios e compreensíveis, e também honestos e justos, limitando-nos, pois a coligir os factos mais importantes, isto é, as verdades e tradições históricas que as crianças devem aprender, para a formação do seu carácter, num sentido utilitário e puramente nacionalista e cristão”.
Tomás de Barros, in Sumário da História de Portugal - 24ª Edição - 4.ª Classe do Ensino Primário e Admissão aos Liceus, 1948

Num tempo em que as novas tecnologias tomaram conta do quotidiano da generalidade dos cidadãos, e em que as novas gerações parecem vir vinculadas à opção do ecrã táctil, estranhando as crianças – não raramente – os equipamentos que não oferecem essa faculdade, torna-se premente perguntarmos em que medida é que essas novas tecnologias podem alavancar o ensino que hoje é ministrado nas escolas e depois nas universidades.

Para alguns de nós, o cheiro de um livro novo e o consequente toque nas suas páginas, continua a ser infinitamente superior ao toque frio num qualquer ecrã recentemente chegado ao mercado, munido do mais emergente software. Coloco-me do lado dos primeiros, não dispensando, contudo, as vantagens adstritas à funcionalidade defendida pelos segundos, especialmente quando esta é associada a um acesso à internet de grande velocidade, com vantagens competitivas que são evidentes em termos de buscas automáticas, etc.

Posto isto, será que estamos a aproveitar as ferramentas ao nosso dispor na actualidade para que o ensino escolar e o ensino universitário sejam criteriosos, úteis, esclarecidos e realmente decisivos para a vida futura dos alunos? Estaremos a ensinar aquilo que é verdadeiramente necessário para as suas vidas pessoais e profissionais? Estaremos a concorrer para que a maturidade e a responsabilidade desses alunos, a título individual e também colectivo, sejam efectivamente alcançadas? 

Perguntas difíceis de responder, certamente com muitos “depende disto” e “depende daquilo”, mas que nos devem fazer pensar, porque, bem vistas as coisas, estamos a preparar o nosso país e o mundo de amanhã. Recordemos Michelet, que referiu que “é preciso que a Pátria seja sentida na Escola”, para dizermos o quanto é importante que o ensino escolar – sobretudo esse –, mas também o ensino universitário, prevejam na oferta formativa dos seus respectivos cursos as noções históricas elementares das nossas raízes culturais e sociais.

Temos trocado bastas vezes nos programas curriculares o que é acessório no conjunto de Unidades Curriculares (disciplinas), por aquilo que é a matriz essencial dos respectivos cursos. No entanto, cabe salientarmos que o que falamos aqui, não pode ser considerado acessório. Com efeito, a Europa assiste a um compasso misto de tempo e de espaço que é demasiadamente apertado para se poder entregar a uma postura passiva perante o que se passa na geografia ao seu redor.

No seio da Europa e tal como outros países, Portugal tem uma identidade cultural e social que importa ser preservada. Embora esta não impeça – e ao contrário, até fomente – a diversidade entre costumes e maneiras de sentir, de viver e até de expressar a fé (independentemente da religião professada), o nosso país não pode, todavia, ficar vulnerável à imposição de tradições culturais e religiosas ligadas com extremismos exacerbados, apartadas daquilo que é a nossa coluna dorsal histórica enquanto nação, e completamente fora do espectro daquilo que é minimamente aceitável em pleno século XXI.
Não podemos ficar indiferentes às imagens chocantes que nos chegam além fronteiras, onde a liberdade de muitas pessoas é colocada em causa pela acção desmedida e descontrolada de alguns, impermeável a argumentos contrários, a opiniões divergentes e uma fé diferente. O que se passa na Síria e no Iraque são exemplos paradigmáticos do quão longe pode chegar o extremismo religioso e do quão relativo é o significado da vida humana pelo globo fora.

A Educação e o Ensino desempenham aqui, muito especialmente, um papel central. Porque é na Família, e depois na Escola, que temos a possibilidade de esclarecer, de transmitir e de inculcar valores, tradições e saberes. E todos temos aqui responsabilidades, a começar pela responsabilidade de defender aquilo que é legítimo, como é o direito a ser respeitado nas suas opções individuais, desde que as mesmas não coloquem em causa os direitos dos outros.

Porque até a liberdade tem de ter limites, para que todos nós possamos ser livres. Daí a importância de uma Educação e de um Ensino esclarecidos e maduros. Tal como disse Nélson Mandela, “A Educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo”.

David Pascoal Rosado | Docente Universidade Europeia


Publicado por David Pascoal Rosado

Temas: Universidade Europeia, Artigos, Tecnologias