Cientistas do desporto realizaram um conjunto de testes a Cristino Ronaldo no intuito de perceber as características que distinguem o melhor jogador do mundo dos demais.
Capacidade física
O sucesso no futebol está subjacente à capacidade dos jogadores chegarem mais cedo que os adversários ao local da bola. Para isso, muito contribui a velocidade máxima de um jogador. Foi nesse sentido que juntou-se o campeão espanhol da corrida dos 100 metros (Angél David Rodrigues) e Cristiano Ronaldo para uma corrida de 25 metros. Como o deslocamento característico no futebol tem mudanças de direção, o percurso foi construído em ziguezague.
Os resultados demonstram que Cristiano Ronaldo correu o percurso em 6.35 segundos, menos 0.51 segundos que Angél Rodrigues (6.81 segundos). A análise biomecânica do movimento revela que o melhor futebolista do mundo, ao contrário do velocista profissional, coloca os dois pés no solo quase em simultâneo, permitindo reduzir o intervalo de tempo entre a travagem (1º apoio) e a aceleração (2º apoio).
Para suportar a capacidade elevada de finalização com a cabeça, Cristiano Ronaldo usa a sua impulsão vertical como meio de superiorizar-se aos defesas na intercepção da bola na área. Foi neste sentido que se avaliou força inferior de Cristiano Ronaldo, através da diferença entre a sua altura e a altura máxima a que consegue chegar com a cabeça (após salto com balanço). Os resultados são impressionantes e revelam que Cristiano Ronaldo tem uma altura máxima de impulsão de 78 centímetros, valor este que se situa acima da média dos jogadores de basquetebol da NBA.
Capacidade cognitiva
Um dos comportamentos-tipo que Cristiano Ronaldo utiliza para superiorizar-se ao adversário e marcar golo é o drible. Nesta ação, a capacidade perceptiva é fundamental para suportar uma boa decisão sobre ‘quando’ e ‘por que lado’ ultrapassar o defesa. No intuito de perceber qual a informação que o jogador utiliza, os cientistas recriaram uma situação de 1 contra 1 e colocaram uns óculos especiais em Cristiano Ronaldo que registam o local para onde olha nas diferentes fases da sua finta.
Os resultados contrariam aqueles obtidos em jogadores amadores. Cristino Ronaldo olha pouco para a bola e muito para o espaço que está entre si e o defesa. Ele parece perceptivamente afinado ao timming de mudança de direção e velocidade, dada por uma valor óptimo da distância do defesa a si próprio.
Para decidir quanto ao lado do drible, Cristiano Ronaldo parece olhar sequencialmente para um pé do defesa, depois para o outro e por fim para a sua anca. Parece usar a fonte adequada que lhe informa sobre o enquadramento corporal do defesa em cada momento, podendo posteriormente decidir para o lado contrário. E note-se: enquanto o drible sai e não sai, é capaz de produzir cerca de 4 (falsos) movimentos por segundo!
Capacidade técnica
Em última instância, marcar golos é suportada pela capacidade de Cristiano Ronaldo colocar a bola numa zona da baliza cujo tempo disponível ao guarda-redes adversário para chegar à bola é inferior àquele que lhe é fisicamente possível. Nesta medida, os cientistas observaram a sua técnica num remate a 20 metros da baliza, analisando o ponto de aplicação do pé na bola e a trajetória da mesma para a baliza. No remate com efeito para dentro (a bola curva na direção do guarda-redes), Cristiano coloca a parte antero-lateral do pé ligeiramente desviado do centro da bola. Desta forma consegue fazer com que a bola rode num eixo vertical perfeito e desviar em 3 metros a bola da sua trajectória retilínea imaginária. Como se não bastasse maximizar a distância da bola ao guarda-redes, minimiza para 900 milissegundos o tempo que este tem disponível para chegar à bola, tornando quase impossível a sua intercepção.
Independentemente das qualidades inatas ou trabalhadas de Cristiano Ronaldo, parece que sem disciplina, conhecimento, resiliência e ambição não é possível ‘fabricar-se’ o melhor futebolista do mundo!
Luís Vilar | Coordenador e Docente de Desporto da Universidade Europeia
Gestão do Desporto | Ciências do Desporto e da Actividade Física