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12-09-2014 18:15

"Será que agora é que o futebol português vai vencer?!" - Opinião de Luís Vilar ao Sapo Desporto


Luís Vilar, coordenador de desporto da Universidade Europeia, analisa a rescisão do contrato de Paulo Bento.

Depois do fracasso no Brasil, e da derrota com a Albânia, Paulo Bento abandona a seleção portuguesa de futebol. Não havia outro caminho, porque o ambiente está por demais tenso. Respeito. Mas alguém acredita que é com Fernando Santos, Vitor Pereira ou (até) José Mourinho que se vai começar a ganhar jogos?! 

Luis_Vilar-Desporto

Lembro o leitor que pensou-se que sim quando se despediu Carlos Queiroz. Tendo se mudado de treinador e o problema continuado, qual a verdadeira causa deste insucesso?

Analisando o que foi a época de 2013/14, eis alguns dados sobre os 23 convocados para o jogo com a Albânia:

  1. Apenas 26% dos jogadores competiu (o equivalente em minutos) em mais de 30 jogos na época passada; cerca de metade tem entre 15 e 30 jogos cumpridos (48% dos jogadores), e cerca de um quarto dos convocados participou em menos de 15 jogos (26% dos jogadores);
  2. Quase três quartos dos convocados (70%) não joga em nenhuma das principais ligas da Europa (Inglesa, Espanhola ou Alemã). Estes jogadores competem em ligas como a Portuguesa (11), Turca (1), Francesa (2), Russa (1) e Ucraniana (1);
  3. Mais de metade dos jogadores (cerca de 52%) não se encontra em clubes que tenham terminado as suas ligas nos primeiros três lugares da classificação.
  4. Apenas um terço dos jogadores (cerca de 34%) participou na edição 2013/14 da Liga dos Campeões Europeus;
  5. De todos os convocados, existe apenas um ponta-de-lança. Este jogador não joga nem num clube grande nem numa liga grande, e demorou (em média) 304 minutos para fazer cada um dos seus 4 golos no ano passado; Quer isto então dizer que a culpa é dos jogadores? Nada mais errado...
Os dirigentes do futebol português ainda não perceberam que se não colaborarem uns com os outros, todos sairão prejudicados. Mais concretamente, temos:
  1. Dirigentes prementemente a insultarem-se na comunicação social, a justificarem os seus fracassos com as arbitragens, e a atrasarem os pagamentos dos ordenados aos seus jogadores;
  2. Uma liga que nos últimos anos existiu sempre um clube que desceu de divisão na secretaria;
  3. Eleições para uma liga cujas listas de candidatos e resultados são sucessivamente anulados na secretaria;
  4. Um futebol de formação onde a ambição de se ser campeão leva a competir com jogadores de idade dúbia (prejudicando-se talentos com idade adequada). Esta ausência de uma política desportiva que promova uma competição sã e a evolução do jovem jogador português, prejudica somente o futebol português.

Veja-se o exemplo da Alemanha: depois do desastre no Euro 2000, os clubes promoveram uma reforma no seu futebol que determinou que TODOS os clubes da Bundesliga 1 e 2 desenvolvessem os seguintes vectores estratégicos: (i) infraestruturas, (ii) programas de educação para os seus jogadores, (iii) metodologias de optimização do rendimento desportivo e (iv) contratação de técnicos especializados. E contratou-se uma empresa estrangeira independente que era responsável pela avaliação e alocação (indirecta) dos Fundos de Solidariedade Alemães da Liga dos Campeões (cerca de 7.5 milhões de euros em 2009/10). Os resultados desta política desportiva são conhecidos por todos...

Só em Portugal é que encontramos um selecionador que se vê obrigado a apostar nos jovens talentos, para que os clubes os promovam. E não o contrário, como em todas as grandes seleções do mundo...

in Sapo Desporto


Publicado por Luís Vilar

Temas: Universidade Europeia, Artigos, Desporto