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08-10-2014 18:13

Rotatividade ou estabilidade da equipa?


Luís Vilar, professor e coordenador de Desporto na Universidade Europeia, analisa as decisões dos três grandes quanto à rotatividade do seu plantel.

Desporto-luis-vilarA rotatividade promovida pelos treinadores dos três grandes tem sido um dos temas quentes em debate na imprensa desportiva. Esta consiste na substituição, mais ou menos frequente, nos jogadores utilizados em competições conseguintes. No decorrer da presente temporada verificamos que:

1. Enquanto o Benfica utilizou 15 jogadores diferentes nos seus onze iniciais (em 8 jogos), o Sporting 18 (em 7 jogos) e o Porto 20 jogadores a titular (em 9 jogos).

2. Jorge Jesus é o treinador que promove menos alterações no onze inicial de um jogo para o outro (0.9 alterações/jogo). Marco Silva efetuou, em média, 1.7 alterações/jogo na sua equipa, e Julen Lopetegui retirou, em média, 3.5 jogadores do seu onze de um jogo para o outro.

3. No total, o Benfica é a equipa que utilizou menos jogadores ao longo de todas as partidas (20), seguido do Sporting (21) e do Porto (22).

Estes dados indicam que o Porto é a equipa que tem promovido maior rotatividade e o Benfica aquela que tem promovido uma maior estabilidade nos jogadores que competem. Este facto tem sido associado aos resultados desportivos de ambas as equipas. Importa perceber quais as vantagens e desvantagens das diferentes opções, para então discutir-se as suas implicações.

Ao longo desta temporada, as três maiores equipas portuguesas podem vir a fazer nas competições europeias (pelo menos) 6 jogos da fase de grupos da Liga dos Campeões (o Porto fez mais 2 com o Lille) e mais 9 se forem apurados até à final da Liga Europa. Em Portugal, competirão ao longo de 34 jornadas da Liga Portuguesa, mais 7 jogos se forem até à final da Taça de Portugal e 5 se forem à final da Taça da Liga. No caso do Benfica, acresce-se o jogo com o Rio Ave para a Supertaça Cândido Oliveira. Ao todo poderão vir a ser 62 jogos oficias numa temporada (61 para o Sporting e 63 para o Porto). Como a época começou a 10 de Agosto e termina com a final da Taça de Portugal a 31 de Maio (294 dias), as equipas poderão fazer uma média de 1 jogo a cada 4.7 dias.

Posto isto, é mais do que provável que hajam jogadores que não poderão competir no máximo das suas capacidades em todos os jogos. Isto poderá ocorrer por motivos de fadiga, de forma desportiva, de castigos ou até de lesões. Este fenómeno é mais certo de acontecer sobretudo no último terço da temporada (fase decisiva).

O facto dos planteis terem muitos jogadores a treinarem bem e em simultâneo, não garante per si que estes estejam preparados para entrar em competição a qualquer momento. Por muito criativo que o treinador seja, nunca vai conseguir reproduzir a intensidade, o ambiente e o contexto decisional de uma competição oficial de futebol. Os jogadores evoluem é competindo e, sempre que possível, os treinadores devem procurar dar constantemente ‘tempo de antena’ a 17/18 jogadores. Não obstante, numa fase inicial da temporada é compreensível que os treinadores procurem estabilizar recorrendo aos mesmos jogadores.

Um dos indicadores mais estudados atualmente na performance do futebol é a centralidade da uma equipa. Este conceito diz respeito à dependência que uma equipa tem de um só jogador para manter a sua dinâmica (de passe). A investigação demonstra que as melhores equipas do mundo têm menor dependência de um só jogador, isto é, a centralidade é mais distribuída pelos 11 jogadores e não (sobre)centrada num só. Esta característica permite-lhes constantemente adaptarem-se a perturbações do ambiente competitivo e ainda assim manterem altos níveis de rendimento.

Talvez esta seja uma das razões que levou ao desaparecimento do tradicional ‘número 10’...

in Sapo Desporto


Publicado por Luís Vilar

Temas: Universidade Europeia, Desporto