No mundo do desporto verifica-se tendencialmente que as práticas dos treinadores são assentes na tradição, intuição e imitação. Uma Universidade moderna deve ser capaz de questionar a adequabilidade destas metodologias, e responder com evidência científica que ajude os treinadores a tomarem melhores decisões que visem a elevação do rendimento dos seus jogadores e equipas. Foi neste sentido que nos últimos anos a investigação produzida pelas Universidades tem sido capaz de desfazer alguns mitos.
Mito #1. Uma boa condição física é a chave para as vitórias
Tradicionalmente, verificamos na pré-temporada os treinadores a aplicarem programas gerais de desenvolvimento da condição física dos seus jogadores na expectativa que esta sirva de base para a manutenção de elevados níveis de desempenho desportivo durante a época. Esta tendência tem por base uma sobre-adopção das ciências de índole biológica, quando comparada com as de natureza psicológica ou motora. Contudo, existe investigação científica que demonstra que os jogadores profissionais de futebol não têm maior capacidade aeróbia que jogadores amadores, e que jogos reduzidos de 5x5 solicitam valores semelhantes de frequência cardíaca que corridas contínuas à volta do campo.
Mito #2. A demonstração é um instrumento pedagógico sempre eficaz
A demonstração é o meio mais utilizado por treinadores para fornecer informação aos jogadores. A assunção de base é que desta forma o jogador percebe como deve fazer determinada ação. Daí a crença que ex-jogadores são sempre melhores treinadores. Contudo, investigação recente já demonstrou que quando o objectivo da ação é atingir um determinado resultado final (ex., colocar a bola na baliza) e não reproduzir esteticamente determinado comportamento (ex., salto mortal), a demonstração não é mais eficaz que a instrução verbal. Isto deve-se ao facto das demonstrações constrangerem demasiado os jogadores a adoptar determinado comportamento, que pode não ser o mais eficaz para cada um (solução única para todos). A orientação do treino para a resolução de problemas é melhor para o futebol dado que partilha a responsabilidade do treino com os jogadores e obriga-os a descobrir soluções criativas.
Mito #3. Quanto mais interventivo for o treinador, melhor
Tradicionalmente, os treinadores fornecem quantidades imensas de correções técnicas acreditando que ‘quanto mais, melhor’ se aprende determinado comportamento. Contudo, a ciência já comprovou que o fornecimento de feedback verbal a cada execução do jogador tem um efeito prejudicial à evolução do mesmo. Uma alternativa ao feedback extrínseco (dado por outra pessoa) é a informação disponível ao jogador pela natural consequência da sua ação (feedback intrínseco). Muitas vezes um jogador é capaz de ver ou sentir a razão porque determinado ação não teve o sucesso desejado. Se o treinador der imediatamente feedback ao jogador está a desencorajá-lo de pensar, tornando-se demasiadamente dependente de outrem. Os jogadores devem ser vistos como participantes ativos na sua evolução e não receptores passivos de informação.
Investigação e prática são assim duas metades de uma mesma moeda, não fazendo sentido existir uma sem a outra. É neste sentido que clubes e universidades devem comunicar no estreito interesse do desporto nacional.