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28-10-2014 16:50

A Escola e a Universidade do Futuro


O que é que os sistemas de redes neuronais têm a ver com a educação e de que modo podem potenciar a criatividade, a aprendizagem, a inovação e a tomada de decisão? Se imaginarmos uma sala de aula como um referencial de aprendizagem inovador e integrador, alinhado com o que considera a moderna teoria dos sistemas dinâmicos da chamada psicologia ecológica, então o professor deixar de parte as metodologias de aprendizagem e das ferramentas tradicionais e, em vez disso, desenvolver “abordagens funcionalistas” criativas, baseadas nas interacções entre os alunos e a envolvente contextual, em torno de temáticas variadas de análise e de discussão, para potenciar a compreensão segundo processos inovadores e adaptativos. Seria esse um risco? Bem, isso seria o equivalente a dar o “salto de trapézio sem rede”.

filipe_castro_soeiro_blogQuando se consideram as interacções entre os sistemas e os sujeitos, que levam aos processos de criatividade e ao pensamento divergente, segundo a aplicação de modelos e de metodologias de redes neuronais, a inovação em vez de focada na eficiência é substituída pela disrupção. Se em vez de um sistema linear, entre professor e alunos do tipo “input-output”, desenvolvemos e aplicarmos em sala de aula um modelo de rede neuronal artificial (ANN), que consiste de um elevado número de “unidades de processamento”, ligadas por “conexões ponderadas”, designadas de “neurónios” ou “nodos”, em que cada unidade recebe “inputs” de muitos outros “nodos” e gera um único “output” escalar, que depende somente da informação e conhecimento disponível localmente, quer esta esteja armazenada internamente, quer resulte via de uma “conexão ponderada” então além de catalisarmos a inovação e aprendizagem em rede não necessitamos de uma base de conhecimento rígida para criarmos e inferirmos novos conceitos e ideias inovadoras. Aprender será então como “jogar”. Segundo a perspectiva ecológica, os contextos de “aprendizagem lúdica” não seguem um processo a priori definido, mas em seu lugar um processo aleatório, e “jogar” não significa apenas tomar decisões sobre um contexto de incerteza, é também reflexo de aprendizagem de conhecimento, de teste e de autonomia para os alunos. Mas, é isto relevante?

Sabia que estudos pedagógicos recentes mencionam que a abordagem empreendedora e inovadora, i.e., a capacidade de resolver problemas, utilizando o chamado conhecimento “out-of-the-box”, ou seja aquele que decorre do pensamento inovador e não do processo sistémico e organizado, corresponde a cerca de 95% nas crianças com 5 anos de idade. Comparativamente, os testes sobre a atitude empreendedora inovadora mostram que aos 23 anos de idade esse rácio de resolução de problemas usando recursos “out-of-the-box” decresce, em termos médios, para 5%. A pergunta que se deve colocar então é qual a relação causa-efeito deste número com o modo como estão estruturados os sistemas de educação e os métodos de aprendizagem e como se pode alterar a tendência?

O problema é que existe um enfoque excessivo dos sistemas de aprendizagem na racionalidade e o modelo racional, tem como pressuposto a tomada de decisão baseada em estruturas de conhecimento armazenadas na replicação da experiência sobre processos anteriores. É como se uma empresa familiar tomasse para o futuro o mesmo padrão de decisões do passado, sem considerar as mudanças de contexto. Que validade teria esse modelo? E que resultados? No mínimo esses resultados seriam muito modestos e limitados.

Quando a variabilidade na tomada de decisão não é aceitável como princípio de aprendizagem e só se considera uma única decisão “correcta” então a validade dessa tomada de decisão é incompleta e condenada, pois não considera possibilidade de disrupção, nem a capacidade adaptativa, que são tão necessárias às pessoas e às organizações. O que é relevante é então analisar em que medida o aluno pode adaptar-se às alterações funcionais da envolvente contextual, uma premissa-chave da psicologia ecológica, e tornar dinâmico o seu sistema de aprendizagem com base no chamado código preditivo de resposta, por via de iteracção sucessiva das suas percepções e das dos seus colegas, valorizando o “erro” como variável do processo e origem de criação potencial de fontes de vantagens competitivas futuras.
É aqui que entram as redes neuronais como modelos psicopedagógicos ecológicos capazes de influenciar os processos de aprendizagem e de desenvolvimento, que podem ser aplicados a áreas como a neuromotricidade, a neurocognição, a criatividade e a tomada de decisão dos gestores, beneficiando gestores, inovadores, empreendedores ou atletas de alto rendimento.

A escola e a universidade do futuro deixarão de ser como as conhecemos hoje. A sala de aula será assente num modelo de aprendizagem que depende da variabilidade de um conjunto de variáveis-chave baseadas na interactividade síncrona entre alunos, professores e componentes da envolvente contextual, o que conduzirá à dinâmica ecológica de criação e de alteração de suportes de aprendizagem e de comunicação, à tomada de decisão instantânea com incorporação do “erro” como parte integrante do próprio processo, dando origem à geração de conhecimento e à inovação. Essa é a escola do futuro.


Publicado por Filipe Castro Soeiro

Temas: Universidade Europeia, Empreendedorismo, Psicologia